Pedi a conta em conjunto com os cafés. Vi que ele estava demasiado nervoso e com aquela pressa apressada que me perturba por não saber se me apetece chamá-lo a mim antes de o deixar ir embora.
“Desta vez não o convido. Se quiser estar comigo que peça.”- pensei entre uma sensação de azia no estomago e um desejo incontrolado de o agarrar. Irrita-me a intempestiva forma de me agredir sempre que se vai embora e apesar de já o ter desculpado pelo desespero com que se referiu à mulher / entulho que aposta em não sair lá de casa, não conseguia deixar de pensar na agressividade com que, menos de uma hora antes, acabara o nosso namoro e afirmara querer ir viver para frança.
“Cala a boca foda-se! Estou farto de te ouvir. Apostaste também tu em me dar cabo da cabeça? qualquer dia não volto” - gritara ao telemóvel-“ fiquem para aí as duas…quero lá saber!”
“ És mesmo mal educado” – dissera-lhe eu em tom de bruta desilusão – “ o que é que eu tenho a ver com os erros dessa gaja? Vai embora e não voltes.São coisas que se digam numa situação como esta? Gastas tudo o que tenho e ainda arranjas uma discussão para me atirar culpas e deixar-me na merda sem um tostão! Nunca precisei de maridinho para me pagar as contas…mas meu menino por mais que fujas os problemas vão contigo! E mais – conclui - tu nunca sairás daqui e não é por mulher nenhuma. É tudo uma treta.Tu não deixas os teus filhos com essa outra que cá tens.”
Abanei a cabeça para afastar estes pensamentos que me puseram o coração apertado. Queria estar bem agora que ele estava de partida. Para quê zangar-me se ele ainda nem tinha ido embora e eu já estava com saudades.
- Vamos? – perguntei.
- Vamos lá…
Respondeu com ar cansado. Tive pena.
- Deixa estar que eu pago. – disse eu, segurando-lhe na mão, que teimava em procurar o dinheiro no porta-moedas pequenino, que eu lhe dera havia menos de um mês. Sorriu mais aliviado que contrariado.
Enquanto saíamos reparei no olhar que deitou ao meu decote e no sorriso circunspecto com que interpretou o cerrar dos olhos de outros homens à minha passagem.
- Fica-te bem esse vestido…não vestes o casaco? Está frio lá fora…
Sorri.
- Claro. – respondi parando no meio do salão para vestir o meu casaco castanho de pelo macio, debaixo do silêncio invejoso que se fez sentir, nos talheres que pararam de ser usados, entre os pratos e as bocas das mulheres gordas que ali comiam.
Acenei aos empregados que conheciam bem o meu estilo havia anos e esqueci rapidamente aquelas bocas abertas.
- Amor eu tenho de ir a casa buscar uma pen. Disseste que estás atrasado… Vais já embora?
Reparei na sua hesitação.
- ainda tenho tempo…
- Anda então. Leva o teu carro és mais rápido a conduzir – ordenei – e assim fico com as mãos livres…
para procurar a chave! - Brinquei ao reparar no seu ar de garoto endiabrado a quem vai ser perdoado um castigo. – é de dia não dá para usar as mãos…trengo!
O gelo estava quebrado. Bendita química entre nós. Lá conseguimos viver longe um do outro! França… lá teria eu de ir tomar o café a paris ao fim de semana…
- Não achas que as janelas estão abertas demais?
Olhei distraída para as duas janelas altas do meu quarto que dá para a rua e apesar de estar habituada a esta perguntas como esta, sempre que ele queria fazer amor perto de qualquer janela que se aproximasse, fiz-me desentendida:
- Aque é melhor fechá-las?
- É capaz de ser melhor…
Agarrou-me por trás com força, inclinando-me a cabeça para a frente e mordeu-me o meu pescoço enquanto me tirava os cabelos da frente da cara com uma mão e com a outra me apertava contra ele.
- Ai!... – saiu-me em forma de grito. Este homens faz-me suspirar alto. Olhei para dentro dos olhos dele. Gosto sempre do desejo que ali encontro. Sinto-o puxar-me os cabelos nunca sabendo se é dor ou arrepio que me atravessa a espinha, derreto-me em sons e ais a cada toque de pele.
- Que foi Rita. – falou aos meus ouvidos.
- É bom. É bom Luís…
- É bom? É, Rita?...
- Achas que se vê alguma coisa cá para dentro? Perguntei rindo.
- Não… brincou …só tu a levares uma foda…
Saltei para a frente soltando-me do seu abraço.
-Quieto! Vou fechar a janela! Não quero ter os vizinhos à porta sempre que acabares de sair… ou as vizinhas quando te sentirem chegar!
- Anda cá Rita. Anda cá e está calada. Quieta vais ficar tu, aqui encostada a mim.
Excita-me a voz dele nessas ordens que me dá. E já me agarro a ele ávida de o tocar, de o beijar, de o despir quero-lhe arrancar a roupa e passar a minha língua por tudo quanto me parece corpo dele… contrario a sua vontade em me prender debaixo dele.
- Não Luís. Não quero já…quero…
Sei que excito.
- Queres o quê Rita? O que é que tu queres?! Olha como tu me pões… mas diz lá o que tu queres…diz que eu gosto de te ouvir.
- Quero as tuas mãos cá dentro… e a tua boca… quero tudo.
- Tudo, é? Assim Rita?
E já o sinto a agarrar o meu peito num afastar rápido dum vestido que se espalha no chão, entre o cinto que lhe arranco e as calças puxadas por mim à força… e sinto os dedos que me mexem num tocar de piano na minha pele excitada e uma língua arrepiada que não para de descer as minhas costas e umas pernas contra as minhas e as mãos ávidas de sexo ao prender as minhas ancas, num rasgar brusco de meias...
- Deixa as botas! Quero-te assim de saltos altos… assim! Vira-te! Quero tocar esse teu peito…isso! Quero senti-lo assim bem rijo dentro da minha boca…
Vira-me para o espelho enorme que tenho na parede aponta:
- Vê Rita. Vê esse teu corpo ali no espelho. Gostas de te ver ali no espelho?...
- Gosto… E gosto de te ver a ti também em cima de mim…
- Gostas Rita então vê! Vê …
- Luís espera… quero mais. Preciso de te tocar, quero sentir o teu cheiro, gosto deste teu sabor!
- Xiu Rita…xiu… quieta – empurra-me com suavidade. Isso… isso quero-te sentir aqui nas minhas mãos…
Estremeço àquela ordem!... Por mais anos que passem tremo sempre àquela voz e obedeço.
– Empurra-me para cima da cama e com sensualidade debruçando-se sobre mim exige:
- Deita-te. Hoje quero-te assim.
- Que maravilha!
Olho para o lado. Ri-o. Dá-me sempre vontade de rir vê-lo assim estendido de braços abertos em cima da cama , como morto mas a falar sozinho, como se estivesse a pensar alto. Que maravilha, é a frase habitual. Mas ainda falta outra…
- É cada batalha campal Rita!
Pronto. Já está. Dou-lhe um beijo. Atiro-lhe uma toalha:
- Quem nós?... toma. Já te podes ir lavar…
Levanta-se tão rapidamente que já não há sinais de lembrança do que se passou aqui.
Não levo a mal. Sei da teoria dos homens: só se lembrará quando chegar o próximo tesão…
Liguei cinco minutos depois de ter saído, como é nosso costume:
- É só para mandar o beijinho da ordem.
- Não te preocupes Rita tudo se há-de resolver...
Desliguei sossegada. Gosto quando ele promete. Sei que tem essa vontade e isso já me basta!
O dia correu mal lá na sala! O tempo custou a passar...é tudo uma palhaçada. As pessoas atropelam-se, ou melhor comem-se vivas à procura de serem as melhores. Não sabem o que é um grupo e que todos podem ser bons. Estou cansada de tanta hipocrisia. As mulheres são terríveis no mundo do trabalho: matam-se umas às outras! São as piores inimigas delas próprias... Bem amanhã falamos. Espero que estejas bem. Penso em ti com carinho. Adoro-te. Tem uma noite feliz